Teresa Cortez
Se me fosse pedido para eleger uma só palavra como subjacente e definidora do meu percurso artístico de mais de quatro décadas, sem dúvida que escolheria Emotividade.
Emotividade, sinónimo da agitação de espírito por mim vivida quando, no meu imaginário, já germinam as ideias mestras que vão preencher o essencial do conteúdo do trabalho que vou fazer e ainda não vislumbro os pormenores dos seus contornos nem, tão pouco, tenho uma visão estruturada e global do seu conjunto.
Emotividade sentida quando da elaboração de um projecto artístico e, antes de passar à fase de execução, na avaliação que faço entre manter, sem nada alterar, as ideias iniciais surgidas directamente da minha imaginação e a posterior e mais serena análise a que procedo na perspectiva da sua valorização estética; no meu íntimo, e a contra-gosto, muitas vezes tenho de reconhecer que os «argumentos» provindos da emoção têm de dar passagem à voz serena da razão.
Emotividade que se manifesta igualmente no plano da minha sensibilidade táctil, pelo gosto que sinto em mexer no barro, prazer lúdico que me acompanha desde a infância e que julgo ser comum a muitas crianças e adultos, que dele podem usufruir.
Não me identificando, em exclusivo, com nenhuma linha de pensamento ou escola artística específica, reconheço-me de algum modo na afirmação de L. Tolstoi de que «a obra de arte só o é se exprimir sentimentos e emoções do artista».
Numa auto-reflexão intimista, e certamente como acontece a tantos outros artistas, muitas vezes relaciono a fonte criativa da minha emotividade com um profundo enraizamento em ligações afectivas, sonhos, vivências familiares e amigos de infância, conjunto de circunstâncias que muito marcaram a minha vida.
Na verdade, independentemente da sua dimensão, temas escolhidos e material de suporte utilizado, em todas as minhas obras a escolha de figuras humanas, animais, plantas, cores, temas, histórias e até mesmo os desenhos de auto-retratos, tem muitas vezes uma componente afectiva que logo identifico por pormenores menos perceptíveis ao observador, mas que são pontos-chave da sua execução, pelo significado que têm para mim.
Emotividade, portanto, com uma grande envolvência afectiva, bem conhecida daqueles que me acompanham mais de perto e que, na fase criativa de uma obra, comentando uma ou outra opção por mim tomada, frequentemente e de forma espontânea, ouvem como resposta minha, «prefiro assim porque me faz lembrar…»