O traçar de Teresa Cortez assinala, em evidência, o seu uso como forma de expressão. Joga com o claro e o escuro, as camadas sobrepostas e justapostas que se determinam e elevam, em cada obra, na sua totalidade, revelando cor. Tal como a oriente a sua base pictural vive da essência da matéria, com a tinta no papel, na tela, ou na cerâmica, a discorrer do seu pensamento. Com tinta espessa ou mais aguada a autora figura delineando, tingindo a diversidade da cor, da tonalidade, fazendo sobressair cada nuance, cada cor.
+A artista conta histórias, narrativas, apresentadas por pinceladas que se soltam, como se nos estivesse a contar, em cada trabalho, a sua história. No espaço terreno entre o céu e a terra define a natureza, com lugares reais e/ou fantasiados com pessoas, animais, contos de fadas, lendas e muitos pássaros, gatos, peixes, borboletas e libélulas a “desaguar” por aqui.
Tudo é pretexto para o contentamento. Com ritmo, com movimento, com o som desenhado, tudo é razão para assinalar o toque que amanhece, ao som de uma corneta que irradia o estrelato. “Os sons produzidos” pronunciam Amor. Aqui até um gato e um rato são dois fortes cúmplices, em amizade.
+Pessoa é uma das representações que persistem na obra desta autora. Em cerâmica escultórica, em cerâmica relevada ou plana, em desenho, aguarela, colagem tudo é sustentáculo para a sua caracterização. Pessoa cidadão, pessoa comum e, ao mesmo tempo, a referência literária que nos desperta para o desassossego. A pessoa, o Fernando Pessoa e o seu mundo, com livros, escritos seus, com chapéu e óculo, tudo é narrativa amorosa com a sua Ofélia Queiroz, tudo é poesia, tudo é prosa, a palavra expressa em imagem é assim aqui figurada.
+Na água corpos despidos somam-se ao corpo translúcido aquoso. Pinceladas sobrepõem-se: azuis, esverdeados e branco, água serena ou agitada, corpos flutuantes, que espreitam ao se banharem na corrente. Na cerâmica barcos à vela são detectados na linha do horizonte; na praia corpos deitados, nudistas, expõem-se ao sol mais ardente; na imensidão das águas a silhueta de um corpo, nádegas, seios, pés, o sexo, tudo é corpo, tudo é natureza, que mergulha no oceano; um casal pula sobre as ondas do mar, uma menina dá aos pés para boiar, rostos fundem-se nos espelhos de água com peixes em cardume por perto rodeados pelo corpo humano, pelo corpo terreno da água e pelo ar mais cristalino!
+Animais… são sapos, carochas, gatos, pássaros, libelinhas, animais em metamorfose, tudo é vida, tudo é diálogo, tudo é fábula, são amigos que acompanham a memória da artista. Recordações que a agarram às suas raízes, à sua terra, ao campo, a todo um mundo rural que a enlaça, que a seduz e abraça desde tenra idade até hoje, em tempo mais maduro. Com a pintura cerâmica, com a escultura, em desenho e/ou aguarela Tereza Cortez não desiste nunca de nos apresentar os seus amigos animais. Um sorriso, o bem-estar com todas e todas as pessoas e com a dádiva do afecto e encanto pela bicharada.
+Flores, são pétalas, são folhas coloridas pintadas ao correr livre do pensamento, que é mão, que é arte, mais real ou abreviada. Um mundo florido cintilante orgânico, que é forma e cor em cerâmica relevada ou rasa, que é pintura, desenho e uma comparência constante, um adereço na afirmação de uma identidade no feminino, é um rosto jardim florido, é um vestido, é a declarar igualdade, é Mulher, é Natureza terrena e humana.
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