Escultura Cerâmica é a essência da mestria da autora: são os objectos cerâmicos; são o esculpir que preenche uma mão e que ganha escala; são um pormenor formal, que é cor, que é pele; que é um gato; uma branca de neve; uma estória de encantar… Num conto escultórico põe em evidência a sua eterna presença, a Princesa que é, no seu íntimo, sempre sonho e o imaginário que a acompanha desde menina. Já adulta surge a Frida Kalo, também ela uma sua “princesa” reiterada. Uma referência artística, uma força Mulher e sempre idealista. Pessoa, Frida Kalo são assim sempre vida, mesmo quando se despedem da terrena, porque a sua obra perdura ao ser reavivada por Teresa Cortez.
+Em jarras cerâmicas Teresa Cortez molda a terracota ajustando configurações imponderáveis. As suas mãos modelam recebendo representações do mundo animal, da natureza ou, simplesmente, apresenta-nos um rosto. São formas volumétricas circulares, cilíndricas, mais ou menos ovais, quase esféricas, que hospedam, em alto-relevo, os seus residentes. São motivos florais, rosas em coração, malmequeres, bem-me-queres, adereços coloridos da natureza, rostos femininos individuais ou em grupos, com cabelos lisos, em trança, pássaros, sapos, carochas, porcos que brotam em cada vaso. Cada peça encontra a sua essência no corpo gerado pela massa, que assim define o corpóreo. Modelar cada objecto escultórico é apreender um sentido, uma fisionomia, uma aparência inscrita na matéria indagada. O vindouro, é o resultado da envolvência, do toque que amassa, metamorfoseando. A matéria orgânica, que brota do corpo terreno, atenta os nossos sentidos. A terracota, ao ser trabalhada pelas mãos da artista, ganha um valor estético como objecto escultórico. Exalta-nos para um olhar circundante, com cada volume a acompanhar o vazado de cada jarra, de cada recipiente.
+A explanação não pára e continua no sofá e na cama. Corpos mais ou menos despidos, com gatos e pessoas, exteriorizam liberdade. Um sapo e um burro sentados, cada um na sua cadeira, frente a frente, ou de costas voltadas um para o outro? Um elefante mais se parece com uma zebra e uma menina tem um laço vermelho, na cabeça; num sofá, com uma malha do tipo da pele da girafa, aconchega uma sua congénere, real; a Marilyn Monroe, mesmo sentada, tem a saia esvoaçante; os senhores e senhora, gatos e gatas, têm uma presença humana; uma menina rechonchuda brinca com um porco, também ele, anafado. Velhos, mais novos e crianças, todos frequentam o habitat mais amistoso.
+Na banheira a autora explora o valor da liberdade, despida de preconceitos, a nu, a descoberta da amizade transparente, a água como manto para o nosso corpo, como terapia da mente, do corpo são, limpo, com o aroma mais magnético para os sentidos. Na banheira submerge o corpo e a mente e recria-se a nossa própria identidade? Esse desafio é aqui apresentado como uma caricatura do nosso quotidiano, em que a narrativa que descobrimos, nas banheiras de Teresa Cortez, não tem barreiras: uma menina vestida está sentada sobre um pavão para, a galope, mergulhar no âmago da banheira; outra, com um longo par de tranças, espreita, em pensamento, o horizonte; um pássaro vermelho com uma cachopa, em conversa olhos nos olhos; Uma jovem de biquíni, estendida sobre um macaco, parece banhar-se no sonho mais azul; são várias as pessoas e animais que se encontram no caudal azul, mais translúcido. Galos, galinhas, pavões, um coelho, uma mulher a nu, um homem despido, o Pessoa, uma freira vestida a rigor, a leitura na banheira.
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