Teresa Cortez
Se me fosse pedido para eleger uma só palavra como subjacente e definidora do meu percurso artístico de mais de quatro décadas, sem dúvida que escolheria Emotividade.
Emotividade, sinónimo da agitação de espírito por mim vivida quando, no meu imaginário, já germinam as ideias mestras que vão preencher o essencial do conteúdo do trabalho que vou fazer e ainda não vislumbro os pormenores dos seus contornos nem, tão pouco, tenho uma visão estruturada e global do seu conjunto.
+Paulo Sucena, Ensaísta e Crítico Literário
Teresa Cortez movimenta suas mãos antigas sobre matéria do mundo, num acto de purificação das coisas e de transmutação dos seres. O seu talento lida com a vertiginosa limalha que gesto a gesto subtrai ao vórtice da infância e inscreve-a na brandura da argila e é a invasão das rosas, dos escaravelhos e das libelinhas. Assim começa o lento transmudar de remotas paisagens da memória. Então os dedos de Teresa Cortez invadem o barro, exploram seres mudos e agudos meandros e plácidos iluminam o coração de rosas que não são o esplendor de ninguém debaixo de tantas pétalas. Rilkianas rosas, focos de luz sobre a mão que desenha a geometria do coração que o Minho reinventa na memorial filigrana que as filhas herdam das douradas mãos das mães.
+Querubim Lapa, Ceramista
Teresa Cortez, ao longo da sua carreira, consegue caldear uma iniciação experimental adquirida em ambiente fabril de largas tradições na arte cerâmica, uma formação académica centrada na aprendizagem destas técnicas específicas e a sua própria sensibilidade vocacionada para esta forma de expressão artística tão enraizada na nossa cultura, atingindo, por mérito próprio, um lugar de destaque entre os ceramistas portugueses.
+Rui A. Pereira
A obra desta autora é significativa e muito diversa, salientando-se, nesse sentido, a importância de muitos dos seus painéis de cerâmica terem sido idealizados para diferentes espaços públicos nacionais. Teresa Cortez inspira-se, no seu trabalho, em referentes muito distintos – do desenho à cerâmica -, utilizando o traço figurativo desprendido, associado à pintura cerâmica, o que acentua a intensidade sensorial e plástica. O processo criativo adoptado, no essencial, tem como base, primeiramente, o desenho que surge no papel pintado com aguarela, lápis de cor ou outras tintas, que depois é redesenhado nas placas de cerâmica ou jarras, para irem, finalmente, a cozer na sua mufla, a mais de 1000 graus centígrados. Os motivos são ilustrados no papel e transportados para serem recriados e reinterpretados na terracota, ganhando deste modo em plasticidade e intensidade cromática, podendo mesmo acentuar-se a componente táctil do trabalho, sobretudo, quando se ampliam as texturas e o volume. Os azulejos, as placas de cerâmica, vivem da cor, da forma ilustrada e, em muitos casos, também do volume em alto e baixo-relevo – algumas representações são mesmo pequenas peças moldadas que se soltam das placas cerâmicas acontecendo, por vezes, uma aproximação na criação das peças escultóricas.
+Rui A. Pereira
O mundo, cada vez mais massificado e sem rosto, em vez de valorizar a identidade cultural tende a estandardizar conscientemente todas as formas de produção, fundamentando a sua existência em objectos de consumo. Sendo um combate desigual, como é óbvio, a arte, no geral, tem um papel decisivo na resistência, como fenómeno de criatividade e liberdade de criação.
Pela mão de Teresa Cortez estamos perante um motivo que consideramos especial, uma temática que abordamos com muito gosto – o mural em azulejo.
+Rui A. Pereira
O traçar de Teresa Cortez assinala, em evidência, o seu uso como forma de expressão. Joga com o claro e o escuro, as camadas sobrepostas e justapostas que se determinam e elevam, em cada obra, na sua totalidade, revelando cor. Tal como a oriente, a sua base pictural vive da essência da matéria, com a tinta no papel, na tela, ou na cerâmica, a discorrer do seu pensamento. Com tinta espessa ou mais aguada, a autora figura, delineando, tingindo a diversidade da cor, da tonalidade, fazendo sobressair cada nuance, cada cor.
+Rui A. Pereira, Curador
A exposição «Um Mundo Lúdico à Espreita», agora apresentada no Museu do Oriente, constitui uma oportunidade única para, em retrospectiva, podermos apreender os últimos 45 anos da obra de Teresa Cortez.
Esta mostra constitui uma justa oportunidade para homenagear a extensa e diversificada obra desta artista contemporânea, ainda em plena actividade, sendo particularmente notável a sua intervenção como criadora de painéis murais em cerâmica.
+Henrique de Melo
Desde o fundo dos tempos e em todas as latitudes que os seres humanos se dedicaram a transformar cereais crus em Pão.
Ao pioneirismo dos primeiros artífices, tenham eles sido pessoas singulares, grupos familiares ou núcleos comunais, é devido o estatuto cimeiro de matriz universal e fundador da arte culinária, entendida esta como a prévia preparação e posterior passagem dos alimentos em estado cru para cozinhados, recorrendo ao manejo controlado do fogo.
+Henrique de Melo
Arte Pública, nas últimas décadas, deixou de significar apenas “arte em lugares públicos”.
As novas concepções passaram a enfatizar a relação arte/comunidade, ao invés de arte/objecto, o que resultou nem praticas como site-specific, “arte socialmente responsável”, “arte-instalação”, sendo tais práticas articuladas pelas referências de tempo e espaço. Trata-se portanto de uma arte entranhada historicidade do lugar, chamando pelo reconhecimento ou transformação.
Marisa Veloso 1
Tomando como ponto de partida os painéis de cerâmica de Teresa Cortez colocados nas fachadas exteriores e paredes internas de vários edifícios, pareceu-me adequado tecer alguns considerandos sobre a Cerâmica Mural portuguesa e a sua classificação como Arte em Público ou Arte Pública, tema que pessoalmente me suscita interesse, não sob uma óptica que não domino, avaliação estética, mas numa perspectiva para mim mais familiar, Filosofia da Arte.
+